Clipping – GZH – Com mercado aquecido para alta renda, vendas e lançamentos de imóveis já superam 2021 no RS

 

Com dados contabilizados somente até o mês de outubro, o setor da construção civil em Porto Alegre já comemora o desempenho de um ano que supera em todos os quesitos a performance de 2021. Apesar das adversidades geradas a partir da manutenção da taxa de juro em patamar elevado, nos 10 primeiros meses de 2022, foram vendidos R$ 300 milhões (ou 7,7%) a mais do que na totalidade do ano passado, segundo relatório do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RS), que ainda projeta alcançar a marca de R$ 5 bilhões com a incorporação dos números de novembro e dezembro ao cálculo.

Presidente da entidade, Claudio Teitelbaum também afirma que o aumento de 7,1% nos lançamentos (3.089) e de 4,1% nas unidades (4.565), ajudaram a configurar outra situação positiva: a redução dos estoques. Isso significa quase 1,5 mil imóveis vendidos acima da quantidade oferecida ao mercado, o que reduz em 20% os estoques, reflete o aquecimento do mercado e reforça um fenômeno surgido a partir da pandemia, chamado de “ressignificação da moradia”

— As pessoas começaram a dar mais valor para o local onde moram, ter sacadas, área de lazer, o que faz surgir muitos condomínios clube, com estrutura melhores. As incorporadoras que pensam um pouco mais no dia a dia das famílias acabam tendo uma velocidade de vendas mais significativa — comenta Teitelbaum.

O fato é uma das garantias para que há oito trimestres consecutivos o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados da Construção) sejam positivos. Desde o início da pandemia, foram abertas mais de 600 mil novas vagas com carteira assinada no segmento, que é considerado uma das locomotivas da atividade econômica.

De acordo com o dirigente, a expansão do mercado ainda está sustentada pela tendência de lançamentos e vendas na alta renda, com foco nos estúdios (com até 30 metros quadrados) e os de padrão mais elevado, (acima de 180 metros quadrados) de três ou quatro dormitórios. Esse é justamente o nicho prioritário da construtora gaúcha Melnick.

O vice-presidente de operações da companhia, Marcelo Guedes, afirma que a performance da empresa – que possui ações negociadas em bolsa desde 2020, após capitalização via abertura de capital (IPO) – foi a melhor da história. O Valor Geral de Vendas (VGV), assim como o de lançamentos e de terrenos com documentação já aprovada nos órgãos municipais, ultrapassou a marca de R$ 1 bilhão, cada. Para 2023, as decisões serão tomadas “projeto a projeto”, diz e, nos momentos de maior dúvida, a aposta é na diferenciação dos produtos, ou seja, os naqueles que tragam um senso de urgência nos clientes em razão de condições ímpares oferecidas.

— É fruto de uma continuidade, tivemos a abertura de capital em 2020, o que gerou um primeiro ano com volume mais expressivo de lançamento. Após o período de maturação, é possível que no terceiro ano mantenhamos essa faixa acima de R$ 1 bi nos vendidos, lançados e entregues, dado esse novo tamanho da empresa — resume.

Incertezas

Apesar do panorama positivo em 2022, o cenário futuro é de incertezas com relação aos aspectos macroeconômicos e fiscais no país. Guedes explica que em um mercado diretamente relacionado com inflação e juros, é natural que uma maior previsibilidade com relação a esses itens esteja presente na tomada de decisões e na organização das estratégias.

— Vemos com tranquilidade, dada a condição que temos de uma posição sólida e liderança no mercado local. Além disso, fatores como um bom banco de terrenos sem a barreira de aprovação e a performance de vendas e do IPO, nos dão um caixa expressivo para pensar em volume de lançamentos positivo.

Na mesma linha, Rodrigo Putinato, CEO da Cyrela Goldsztein, antecipa que há muitos lançamentos, mas que, a exemplo do que já aconteceu em 2022, é possível segurá-los um pouco para aproveitar o melhor momento. Segundo ele, é preciso ficar de olho em fatores como juros e disponibilidade de crédito imobiliário.

— Somos uma empresa de negócios, o que significa que não vamos atuar só com alta ou baixa renda, mas acompanhar a tendência do mercado e avaliar os cenários. Ano que vem tem muita coisa prevista, sempre se quer lançar 100%, o que também não significa que lançaremos — pontua.

Volta da baixa renda ao mercado anima as projeções

Setor que demanda elevados volumes de crédito para deslanchar, a construção civil ficou exposta ao juro alto em 2022. Após encarar 14 meses seguidos de taxa Selic a 14,25%, a atividade acostumou-se, a partir de 2019, com curvas em declínio até que os ventos mudassem outra vez.

Agora, com a taxa Selic a 13,75% e o consequente freio nos imóveis voltados à baixa renda, produtos de luxo tem sustentado as apostas e a expansão no Estado. No pior período recente, de agosto de 2015 a setembro de 2016, o juro real (descontado a inflação) era de 8%.

Quatro anos depois, entre setembro 2020 e março de 2021, chegou a 4% negativo. Hoje é de 7,8%. De acordo com dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) nos empréstimos concedidos para o tipo de bem mais vendido no Brasil: o apartamento de dois dormitórios com preço médio de R$ 250 mil, valor total coberto por linha de crédito chega, em média a 80% (R$ 200 mil), o que reforça o papel dos financiamentos no segmento.

Presidente do Sinduscon-RS acredita na reversão desse quadro já a partir de meados de 2023, quando projeta uma Selic de um dígito. Segundo ele, o anúncio feito na quarta-feira (7) passada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), a respeito da inclusão de cerca de R$ 10 bilhões para o programa Minha Casa, Minha Vida (atual Casa Verde e Amarela) na PEC da Transição anima o setor.

O dirigente explica que Brasil fez a lição de casa e aumentou a taxa de juros para conter a inflação, mas isso retirou dinheiro da poupança, a principal fonte de financiamento dos programas habitacionais. Os projetos de baixa renda, acrescenta, ficaram desguarnecidos também por não contarem com reajuste pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), que mede a inflação do setor.

— As construtoras tem um teto de preço, que se for ultrapassado gera prejuízo. Com o aumento do custo e do preço de esquadrais, cimento, concreto, fios, cabos, etc, gerou-se incerteza nas empresas que passaram a reavaliar a participação nesses programas e migraram para o SBPE (modalidade que empresta os recursos da caderneta de poupança para aquisição de imóveis), cuja faixa de preço é entre R$ 300 e R$ 400 mil, menos populares, e que não contam com todo o subsídio das taxas — explica, ao projetar INCC de 8% a partir do ano que vem.

Fonte: GZH