
Principais polos do comércio da Capital foram afetados pela crise
Antes da pandemia, a região central era a que estava em situação melhor dentro do panorama do comércio da cidade, avalia o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Irio Piva. Mas, hoje, é um dos locais mais impactados, até por ser um local de passagem entre a casa e o trabalho para boa parte da população. “Nesse momento, as pessoas estão preferindo comprar próximo de casa, e o Centro está sofrendo. E, mesmo que a transmissão do vírus desacelere, teremos pela frente um longo período em que as pessoas terão de se cuidar, mantendo a tendência de comprarem no entorno ou pela internet”, projeta Piva.
‘Ninguém vai alugar pra ficar fechado’
Uma lenta, mas aparentemente segura reação do mercado para aluguéis de salas e conjuntos comerciais mostrava que o setor de locações estava reagindo no começo deste ano após um período de crise econômica. Até cair “a bomba”, conforme descreve Moacyr Schukster, presidente do Secovi-RS. De lá pra cá, a paralisação só não foi total porque seguem consultas e buscas de oportunidades, mas sem a efetivação de contratos em razão da falta de expectativa no curto prazo e pelo movimento de abre e fecha do comércio. “As pessoas não estão desinteressadas, continuam se informando, mas não fecham negócio porque ninguém vai instalar loja para ficar fechada”, explica Schukster.
O impacto levou à renegociação de preços de locação e resultou, inclusive, na suspensão da pesquisa completa do mercado imobiliário, divulgada pelo sindicato. A mais recente é de fevereiro. Agora, o Secovi está reunindo informações com consistência estatística para divulgar nova sondagem.
Em resposta à solicitação do Jornal do Comércio, foi feito um levantamento da oferta de imóveis para locação dos bairros com mais amostras comerciais de Porto Alegre (página ao lado).
Enquanto a locação comercial está em compasso de espera, a compra e venda começa a ganhar fôlego. Como as aplicações estão rendendo menos, investidores começam a se voltar para os imóveis – que não aumentaram de preço de acordo com a inflação, aponta o presidente do Secovi-RS: “quem tem dinheiro, se volta para algo mais rentável e seguro”.
Rua da Praia, do glamour do passado ao desafio futuro
Placas de “Aluga-se” ganham a paisagem
A restrição de circulação de pessoas no Mercado Público de Porto Alegre é simbólica. Assim como o mais antigo mercado da Capital, a limitação de abertura é realidade para a quase totalidade das empresas de serviços e varejo.
No Centro, pessoas caminham apressadas entre camelôs, passando por vitrines com cortinas de ferro fechadas ou semiabertas, tapumes e placas de “Aluga-se”. Esse é o cenário do principal bairro comercial da cidade em um dia útil. Até há certo movimento, mas longe da normalidade de cinco meses atrás, em uma região que concentra grande parte dos prédios públicos, lojas e escritórios de serviços.
Às 10h da manhã de uma segunda-feira de julho, era possível caminhar pelo meio da Rua dos Andradas, onde circulam automóveis, sem receio de atropelamento. Também o número de pedestres era reduzido no trajeto entre a rua Doutor Flores e a avenida Borges de Medeiros. Na Rua da Praia, imóveis, antes ocupados por lojas, exibiam placas de locação. “É muito triste. Em junho, caminhei por ruas do Centro, entre Andradas, Senhor dos Passos e Borges de Medeiros e me impressionei com a quantidade de lojas fechadas: contei 15”, relata Vilson Noer.
Polos comerciais de bairros enfrentam desafios
Corredor da Azenha perde várias operações
Zona Norte busca associações para se fortalecer
Na Zona Norte da Capital, a pandemia estimulou um movimento para reativar associações. “Ainda que não esteja formalizada, há um pool coeso de empresários que está conversando e pretende transformar a Zona Norte em um polo diferenciado. Ao sairmos da pandemia, haverá uma reaproximação para criarmos estratégias de atenção ao comércio”, detalha Fábio Irigoite, gerente-geral do Lindoia Shopping.
Há 22 anos atuando na região, o executivo viveu as transformações do local. A abertura do shop- ping Lindoia em 1994, culminou com a época em que o bairro de mesmo nome era considerado o Moinhos de Vento da Zona Norte. De lá para cá, houve uma migração dos mais jovens para outras regiões, o que alterou o perfil de compras.
Também houve uma remodelação da avenida Assis Brasil, com a saída de redes antigas, a chegada de outras operações e o fechamento de antigas fábricas.
A área industrial perdeu espaço para o varejo e grandes prédios residenciais e comerciais, tornando a região de uso misto. “É uma das áreas que mais cresce, apesar do esgotamento do uso do solo, há ainda oportunidades de vazios urbanos que podem vir a trazer conforto pela proximidade”, explica Irigoite.
Abrangendo bairros a partir do Passo D’Areia, passando por Lindoia, Cristo Redentor, Itu Sabará, até o Sarandi, a região tem um varejo diversificado. Há desde shoppings, como Lindoia, Boulevard e Bourbon, lojas para casa e construção: Tumelero, Leroy Merlin e Cassol, super e hipermercados das redes Big e Zaffari e o clube de compras Sam’s Club. Além de lojas de confecção, artigos para o lar, serviços, restaurantes e lancherias.
Porém, uma das marcas icônicas da Zona Norte, a loja Empo, de roupas para a família, fechou no tradicional endereço da avenida Assis Brasil devido à venda do prédio. O empresário Eduardo Ryzewski Garcia, filho do fundador, busca agora novo espaço para a empresa se manter na região.
Associação Cristóvão Colombo aposta em grupo de WhatsApp para mobilização
Nos bairros, além de iniciativas isoladas adotadas pelas empresas, algumas estratégias coletivas com consumidores cativos vêm ajudando a manter as operações. Exemplo de solução foi adotada pela Associação Cristovão Colombo (ACC), que abrange o bairro Floresta e parte do Centro, São Geraldo e Moinhos de Vento e congrega cerca de 100 associados. Em março, quando as primeiras ações de distanciamento social foram implementadas, foi criado um grupo de WhatsApp para comercializar produtos e serviços da região. São cerca de 200 pessoas, que oferecem e adquirem desde comida, chocolate, confecção, calçados, até artigos de bazar, entre outros, detalha a presidente da ACC, Dirce Gomes.
As encomendas são feitas no próprio grupo ou diretamente com os fornecedores, que abastecem a rede com fotos de pizzas, refeições completas, novidades da moda e sugestões de presentes. É um mercado fomentado por empreendedores e consumidores, e que estimula a economia local. “Os empresários estão se reinventando e se adaptando aos novos tempos, às mudanças de rotina das pessoas, que ficam mais em casa”, conta Dirce.
Ela lembra que as atividades da associação, como as oficinas de informática, idiomas, artesanato e dança, entre outras, foram suspensas para evitar aglomerações. Assim como as festividades, como a 40ª edição da Criança na Avenida, tradicional evento que ocupa a Cristovão Colombo com atrações para o Dia da Criança, e a comemoração dos 50 anos da ACC, que ficarão para 2021. “Tem de reprogramar”, afirma a dirigente, sem desanimar.
O receio de se contaminar com o novo coronavírus impõe, além das medidas de segurança adotadas pelas empresas do varejo e de serviços, a necessidade de uma comunicação direta e eficaz com os consumidores, mais fácil de informar quando se estabelece uma relação de proximidade.
“Haverá um novo comportamento, uma nova forma de agir com o comércio. As pessoas estão ainda muito apavoradas, não sabem se saem, se compram e, antes do final do ano, não deve retomar, daí a necessidade de os empresários se reinventarem e rapidamente”, considera Dirce.
No Moinhos, transformação já ocorria antes da pandemia
No Moinhos de Vento, a transformação nas principais vias comerciais, como a Padre Chagas, já ocorria antes da pandemia. Agora, as ruas estão mais calmas com a saída de operações de gastronomia, como Café do Porto, Z Café, Dado Pub, Banca 40, Paris 6, AppleBee’s, ao mesmo tempo em que cresce o número de farmácias, clínicas e escritórios em suas charmosas ruas.
Esta mudança de perfil, que já estava em curso, foi motivada, entre outros fatores, pelo custo de aluguéis e queda na renda da população e do movimento de clientes, que começaram a migrar para a avenida Nova York, no bairro Auxiliadora.
Ao mesmo tempo, a região atrai investimentos imobiliários. Só a incorporadora Wolens planeja quadro empreendimentos comerciais e residenciais no bairro, com investimento de R$ 150 milhões.
“Quando começa um movimento de saída de empreendimentos comerciais, há uma readequação no preço dos aluguéis, caso do bairro Moinhos de Vento”, aponta Paulo Kruse, presidente do Sindilojas Porto Alegre.
Bom Fim também registra alta na oferta de imóveis
Comércio de bairro terá mudanças
Haverá um redesenho no comércio de bairro após a pandemia. Pelo longo período de fechamento, muitas lojas vão encerrar atividades, especialmente as micro e pequenas empresas que já estavam com dificuldade de caixa. Com isso, o comércio ficará mais restrito em determinados bairros, resultando em uma concentração em um primeiro momento, pela maior capacidade das grandes empresas. A avaliação é do presidente do Sindilojas, Paulo Kruse. As redes podem passar a investir em operações de rua, a exemplo de Rabusch e Pompeia, de moda, e da BelShop, especializada em cosméticos. É uma estratégia de divulgação, faz o nome ficar mais conhecido, demonstrando capilaridade. A relação de proximidade com o consumidor pode servir como diferencial, aponta Kruse.