Clipping – Exame – Por que o financiamento imobiliário cresceu mesmo com a pandemia

A pandemia de coronavírus parece não ter atrapalhado o sonho do brasileiro em ter a casa própria. Ao contrário, o número de pessoas que tomaram empréstimo para financiar um imóvel segue em expansão no país. Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) apontam que em julho o volume de crédito atingiu 10,82 bilhões de reais, um crescimento de 16,7% em relação a junho e de 61,5%, frente ao mesmo período de 2019. Segundo a associação, foi o melhor julho desde 2013. No acumulado do ano, entre janeiro e julho, os empréstimos destinados à aquisição e construção de imóveis alcançaram 54,17 bilhões de reais, alta de 34% em relação a igual período do ano passado.

A psicóloga Patricia Dalcin, de 37 anos, foi uma das pessoas que tomaram crédito imobiliário no mês passado. Juntamente com o marido, ela decidiu trocar o apartamento em que morava por uma casa. A família tinha o hábito de pesquisar sobre preços e imóveis mesmo sem a intenção de comprar, mas depararam com uma oportunidade. “Era uma casa em um condomínio fechado e perto do meu trabalho. Fomos visitar e gostamos muito.” Para que a compra fosse finalizada, eles precisavam vender o apartamento em que moravam. “Vendemos em menos de três semanas.” A aprovação do financiamento no banco também foi rápida e a taxa atrativa, de 6,99% ao ano. “Foi mais barato do que quando financiamos o apartamento há alguns anos atrás.”

Esta é a principal explicação para o crescimento dos financiamentos de imóveis no país: taxas de juro que cabem no bolso do consumidor. Com a Selic, na mínima histórica, em 2% ao ano, os grandes bancos têm cobrado juros entre 6,99% ao ano até 8,15% ao ano nas linhas de financiamento imobiliário. Em 2014, no auge do boom imobiliário, a taxa média cobrada era de 9,23%. Nesta época, o volume de crédito emprestado chegou em 112,9 bilhões de reais.

Além de taxas mais atrativas, o consumidor agora tem outras opções de financiamento, como linha corrigida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Na Caixa, por exemplo, nesta linha, a taxa mínima cobrada é de IPCA+ 2,95% ao ano e taxa máxima de IPCA+ 4,95%. Desde o lançamento em julho do ano passado, a Caixa já emprestou 12 bilhões de reais. “O IPCA foi reduzindo e esta linha está mais atrativa”, explicou Pedro Guimarães, presidente do banco, em coletiva realizada na semana passada. O executivo afirmou ainda que a possibilidade de prorrogação do pagamento do financiamento para quem comprasse um imóvel novo ou usado também incentivou o consumidor. “Demos seis meses de carência para compra de imóveis e houve uma grande procura.”

Cristiane Portella, presidente da Abecip, destaca que o cenário acabou sendo atrativo para quem não foi impactado pela pandemia. “Comprar uma casa demanda um planejamento. Quem não teve perda de renda seguiu com os planos e encontrou boas opções.”

Somado a isso, ela destaca que os imóveis estão com preços atrativos. Dados do índice Fipezap, que monitora anúncios de imóveis em 50 cidades do país, apontam que o reajuste no preço dos imóveis ficou abaixo da inflação nos últimos 12 meses. Segundo a executiva, estes imóveis passaram por um boom de alta nos preços entre 2009 e 2014 e estão com dificuldade para se valorizar novamente. A retomada da valorização tem sido lenta. “Os preços dos imóveis estão baratos. Existem boas oportunidades no mercado.”

Por fim, Portella acrescenta que os imóveis voltaram a ser uma opção de investimento do consumidor. “Existe uma expectativa de valorização, além disso pode gerar uma renda por meio do aluguel.” O IGP-M (Índice Geral de Preços–Mercado), usado no reajuste dos contratos de aluguéis residenciais, fechou em alta 2,74% em agosto, após ficar em 2,23% em julho. Com isso, o índice acumula alta de 9,64% no ano e de 13,02% em 12 meses. “Com a Selic em baixa, o investidor voltou a olhar para os imóveis.”

Fonte: Exame

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