Clipping – Jornal O Globo – Home office muda a forma de morar

A cada grande mudança na sociedade, os modelos de moradia também se transformam. Com a pandemia, a tendência de trabalho em casa, que começava a ganhar força, teve novo impulso e provocou uma revolução na procura e na oferta de casas e apartamentos. Famílias querem espaço para morar e trabalhar com conforto; construtoras e imobiliárias buscam soluções para as novas necessidades.

— É uma revolução positiva que interfere na dinâmica da casa. A sociedade muda e o modo de morar muda com ela. Quando tivemos uma nova consciência do trabalho doméstico, as pessoas começaram a mudar o uso da casa, o projeto mudou, hoje é difícil a gente fazer um quarto de apoio de funcionários das casas. Antes da pandemia as pessoas já estavam mais preocupadas em ser autossustentáveis, em perceber o que é excesso e o que é essencial na vida. Hoje o essencial na maior parte dos casos é ter uma base de home office. A gente iria para essa direção no futuro, só acelerou o processo — diz o arquiteto Duda Porto que, antes da pandemia, já havia criado um projeto com o conceito “menos excesso e mais essência”.

Como o home office não foi apenas um improviso, mas uma mudança determinante na vida das famílias, as demandas estão evoluindo e Duda Porto conta que clientes já buscam mais de um espaço de trabalho:

— Antigamente a gente fazia um escritório nas casas e hoje a gente já tem demanda de dois escritórios, porque às vezes o casal tem trabalho on-line ao mesmo tempo mas não pode ficar no mesmo espaço, por causa do barulho. Em vinte anos no mercado, a relação com o cliente traz uma bagagem de informação muito forte através do olhar do usuário. A gente acaba tendo uma visão um pouco antecipada das coisas que podem acontecer. Costumo dizer que a gente tem que dominar a casa e não a casa dominar a gente.

Duda chama atenção para o fato de que não se trata apenas de ter um escritório, mas também de criar um ambiente visualmente atraente. Afinal, com o home office vieram também as reuniões virtuais:

— Agora não só a gente precisa se preocupar com o espaço mais confortável, mas também que ele seja um pouco um cenário, porque as pessoas estão usando a câmera com o home office. A aceitação da videoconferência é muito interessante, as reuniões são até mais objetivas e as pessoas estão muito mais eficientes com o tempo. Não tem sentido a obrigatoriedade de todo mundo entrar e sair do trabalho no mesmo horário, isso não interfere em nada na produção.

O próprio escritório da Duda Porto Arquitetura é um exemplo:

— Hoje somos 50 pessoas, temos parte da equipe trabalhando em Portugal, na Espanha e a gente se relaciona todo dia por videoconferência.

O arquiteto também destaca o desejo de muitos clientes de retomar atividades que foram abandonadas.

—Além do home office, muitos querem resgatar um hobby que deixaram de fazer e um espaço para isso. As pessoas querem uma sala de música, um estúdio, uma sala de pintura, de cerâmica. E percebo que 95% dos meus clientes gostariam de uma segunda moradia.

A gerente de produtos da RJZ Cyrela, Christiane Nava, lembra que o trabalho remoto leva a mudanças nos apartamentos, mas também nas áreas comuns dos edifícios. A tendência de oferecer espaços de co-working e salas de reuniões, que surgiu há alguns anos, tornou-se ainda mais forte. Os empreendimentos também começaram a oferecer wi-fi em todas as áreas comuns, inclusive academias e espaços de recreação.

Alguns empreendimentos da construtora passaram por adaptações, como estender o alcance do wi-fi, durante a pandemia.

— A gente já via que o home office era uma tendência de mercado e antes da pandemia os empreendimentos já ofereciam espaços de co-working. Teve empreendimentos que a gente mudou no meio da pandemia, deu uma segurada e fez modificações para se adaptar a essa nova forma de trabalhar. A gente está oferecendo wi-fi em todas as áreas. Você não precisa estar em um espaço fechado para fazer uma reunião on-line, pode estar malhando ou cuidado do filho. Conseguimos fazer mudanças a tempo para os novos lançamentos. E também temos nos preocupado com o apartamento do cliente — diz Christiane.

Para atender as novas demandas por espaço para o trabalho em casa, Christiane diz que flexibilidade é fundamental. Por isso, a construtora dispõe de plantas de apartamentos que podem ser adaptadas de acordo com as necessidades dos clientes.

— A flexibilidade das nossas plantas considera espaços de escritório seja na varanda, no quarto de empregada, seja aumentando a sala. Nossas varandas já estão com previsão de ar condicionado, podem ser fechadas e virar home office. Também já tem ponto de TV na varanda, porque a televisão pode ser a tela do seu computador, você pode usar de muitas formas no trabalho.

Para a gerente de vendas da Brasil Brokers Michelle Lopes, dois movimentos ficaram muito claros no mercado imobiliário: a procura por casas maiores para morar e pequenos apartamentos para investir.

— Tive muitos clientes que estavam procurando dois quartos e passaram a procurar três ou quatro quartos, para fazer escritório. Também muita demanda por gardens, coberturas. Todo mundo quer um espacinho a mais para o home office, mais comodidade em casa. O mercado abriu. E o investidor voltou, coisa que há muito tempo não acontecia. Com a taxa de juros baixa, muita gente resolveu aplicar em imóvel. Temos muita demanda de quarto e sala para investir. A procura é grande por lançamentos, porque a tecnologia dos novos empreendimentos diminui os custos, o condomínio é mais barato. É um ótimo custo-benefício. A facilidade dos contratos digitais também atraiu muito interesse — afirma Michelle.

Fonte: Jornal O Globo