Clipping – Gazeta do Povo – 2020: mercado imobiliário avança mesmo diante da nova “década perdida” da economia

Não tem jeito! Enquanto a vacina não chegar ou a população não atingir a imaginada imunidade de rebanho, os impactos da Covid-19 ainda serão sentidos – e analisados – nos mais diversos aspectos da vida cotidiana. No que se refere à economia e ao setor produtivo, especialmente o da construção civil, o que se vê são cenários distintos nos quais, de um lado, a primeira aponta para sua pior fase da história enquanto, de outro, o segundo avança – e com força.

A paralisação de praticamente todos os setores produtivos ocorrida, principalmente, em períodos distintos do segundo trimestre em decorrência da necessidade de isolamento social, aliada ao temor da perda de renda e das incertezas que o novo coronavírus carrega consigo, fez com que a variação do PIB (Produto Interno Bruto) no período chegasse aos 9,7% negativos, número quase quatro vezes superior aos também negativos 2,5% registrados no 1º trimestre de 2020.

Para o ano, a previsão de queda é de 5,03%, segundo o Relatório Focus, do Banco Central (BC), divulgado nesta terça-feira (13). Mesmo melhor do que o piso de -6,54%, registrado no fim de junho, o porcentual não é suficiente para tirar o país do que poderá ser sua pior recessão em 120 anos, ou seja, desde quando o dado passou a ser coletado, em 1901. Vale lembrar também que no início de 2020 a expectativa era a de se registrar o maior crescimento desde 2013, com o PIB avançando 3%, em média.

“Todo mundo conhece a década de 1980, no qual o crescimento médio anual foi de 1,6% ao ano, como a década perdida. Nós teremos que encontrar, agora, uma caracterização para a década de 2011-2020, porque perdida, comparando com 1981-1990, será pouco, pois perdida era um crescimento médio de 1,6%, e agora teremos uma queda [média anual] de 0,7% [na década 2011-2020]”, compara Ieda Vasconcelos, assessora econômica do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG) e economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) ao comparar os dados dos últimos dez anos com os da até então tida como a pior década de desempenho do PIB nacional. “Nós crescemos alguns anos, mas a queda em outros, como foi o caso de 2020, comprometeu o resultado”, completa.

Mercado imobiliário
O mercado imobiliário também não passou ileso à chegada da pandemia. Em abril, a intenção de compra de imóveis novos, um dos mais relevantes balizadores do mercado, atingiu a marca dos 20% – número considerado basal para o setor -, ante os 43% registrados antes do primeiro caso da doença no país.

Quedas também foram registradas na confiança dos empresários da construção civil, que atingiu o pior índice dos últimos dez anos, 34,8 (em uma escala de 0 a 100), e no índice de atividade da construção civil, que ficou em 29 pontos em abril deste ano, o menor da história, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentados na pesquisa “Impactos Econômicos da Pandemia e os Desafios sobre o Mercado Imobiliário”, divulgada na última quinta-feira (8) pela Brain Inteligência Estratégica em parceria com a CBIC.

Horizonte
“[O resultado] será bem menos pior do que imaginávamos. Não significa que não seja grave. É grave. Mas é menos grave do que se esperava”, avalia Ieda ao vislumbrar o que se pode esperar da economia para os próximos meses.

A avaliação está embasada nas projeções para o fim deste ano e, principalmente, para 2021. Isso porque, ainda que negativo, o PIB já apresenta sinais de recuperação, fechando com queda menor do que a prevista em junho (-9,1%) e tem expectativa positiva na casa dos 3,5% para 2021, recuperando parte das perdas causadas pela pandemia.

O setor produtivo também já voltou a direção dos seus números para o eixo positivo das planilhas, com produção industrial, comércio e serviços entrando em fase de recuperação a partir de maio.

Na construção civil, o que se viu foi a retomada da atividade a partir de julho, quando o índice superou os 50 pontos, tido como base para determinar o crescimento do setor, e do saldo de empregos, que registrou, em agosto, seu maior número desde o início do ano, com 50.489 vagas abertas no mês.

O mês de agosto registrou, ainda, aumento de 7,8% no número de unidades residenciais lançadas, que somaram 18.600 em todo o país, no comparativo com o mesmo mês de 2019. Em relação a julho de 2020, o crescimento foi de 107,9%. O pior mês do ano foi abril, quando 3.660 unidades foram colocadas à venda.

Já as vendas, por sua vez, cresceram 28,5% no comparativo entre os meses de agosto de 2019 e de 2020, sendo que, neste último, só perdem em número de unidades vendidas (20.236) para o último dezembro, quando 20.518 delas foram negociadas.

“O mercado imobiliário nacional vivencia uma janela de oportunidade. Nós estamos assistindo por todo o país [números de] vendas superiores aos de lançamentos. E isso não é só no momento da pandemia. A gente vem [neste ritmo] nos últimos dois anos. Com isso, o estoque de unidades novas disponíveis para comercialização está em um dos menores patamares da série histórica. Isso significa que, no momento de retomada, a nossa tendência é a de lançar, mesmo”, pontua a economista da CBIC.

Aqui, um estímulo extra vem das baixas taxas de juros, estimuladas pela Selic em 2% ao ano, o que favorece a tomada de crédito para a realização da compra. O bom momento para a contratação do financiamento tem impactos, também, sobre a intenção de compra, que em agosto voltou aos 40%, aproximando-se dos patamares pré-pandemia.

Fonte: Gazeta do Povo

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